sábado, 28 de junho de 2008

As penas.

Quando pequenas,minha irmã e eu éramos muito sonhadoras.
O sonho e a imaginação se conjugam muito bem.
E, de vez em quando inventávamos histórias sobre nossas companheiras. Essas histórias se transformavam em boatos que, em uma cidade pequena, terminavam por provocar dissabores e desagradáveis incidentes entre nossa família e a vizinhança.
Na verdade, não fazíamos aquilo por mal, mas naturalmente, enquanto dávamos rédeas soltas à nossa fantasia, os desagradáveis incidentes se multiplicavam.
E, de cada vez que um desses episódios se repetia, corríamos para nossa mãe e dizíamos:
__Mamãe, nós prometemos reparar o mal que fizemos.
Minha mãe, com certeza, percebia que castigos não corrigiriam os excessos de nossas mentes.
Lembro-me muito bem de certa manhã, antes do inverno chegar.Ventava muito e nós brincávamos no galpão.
Mamãe nos chamou:
__Filhas, por favor, venham até aqui. Aí perto de vocês há uma almofada e uma tesoura.Tragam-as.
Nós atendemos.Mas fazíamos uma indagação: o que mamãe estava pretendendo fazer?
__Agora, disse mamãe, quando colocamos os dois objetos junto dela, vocês vão cortar a almofada ao meio. Cada uma cortará de um lado.
Obedecemos. A almofada estava cheia de penas e logo em seguida, levadas pelo vento, elas enchiam o quintal num espetáculo tão lindo como uma tempestade de neve.Eu e minha irmã pulávamos e rodopiávamos encantadas com espetáculo imprevisto.
Mamãe tornou a nos chamar. Junto dela estava a sua cesta de costura, que nem tínhamos visto.
Foi de lá que tirou uma capa de almofada nova, bordada e disse:
__Olhem, agora vocês vão encher de novo esta almofada.
Era absurdamente impossível o que ela nos pedia.
__Mas, isso é impossível, as penas voaram por toda parte...
Mamãe fez um comentário que nunca mais esquecemos:
__Essas penas parecem os boatos que certas pessoas espalham, uma vez espalhados, não há meio de fazê-los voltar ao ponto de partida.

Um comentário:

ARTEROSANE disse...

Amei o seu blog, muito lindo!!!
Cheio de sensibilidade!!!
Beijo